"Sobre o toso do meu cavalo tenho a visão de um mundo onde sou tão completa, livre e sem qualquer preconceito. Simplesmente Feliz!!!!"

Raquel Borba Pires

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sábado, 5 de março de 2011

JULIANA SPANEVELLO

Para firmar identidade na música campeira


Juliana Spanevello é uma cantora da região central do estado. Vem de Faxinal do Soturno e tem forte atuação na música nativista e italiana. Já foi melhor intérprete da Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaiana, considerado um dos enventos mais respeitados da música nativista, por dois anos consecutivos. Também teve atuação no rádio. De janeiro a outubro de 2008, apresentou o programa "Campo Afora", diariamente das 18h às 20h, na Rádio La Sorella - 90.9 FM. Vive um momento muito especial na carreira. Entrou em estúdio para gravar o terceiro disco. Com tema campeiro, a obra pretende colocar a intérprete em igualdade com as vozes masculinas identificadas com esse estilo. Hoje ela tem a coragem para cantar as suas vivências de campo e sente-se a vontade para transmitir essa verdade através de suas canções. Confira a trajetória musical, suas influências, as participações nos festivais, o seu lado "blogueira" e mais algumas curiosidades na entrevista cedida ao De terra, campo e galpão:

Por João Cléber Caramez

Como começou a tua carreira musical? Desde o início, cantavas música nativista?

Cresci no convívio dos CTGs, participando de concursos de prenda, e quando criança cantava de tudo um pouco. Aos 11 anos, pela amizade da minha família com o Antônio Gringo, acabamos conhecendo os festivais de intérpretes mirins como a Coxilha Piá, em Cruz Alta; a Gauderiada Mirim, em Rosário do Sul, dentre outros, e iniciaram aí minhas primeiras apresentações para o público apreciador da nossa música nativista. Logo em seguida, com 12 anos, minhas primeiras participações com músicas inéditas nos festivais nativistas em todo o estado.

Quais são as tuas principais influências na música?

Nossa! Eu ouço muita coisa diferente. Tenho referências das mais variadas possíveis! Sempre ouvi de tudo. Me considero uma pessoa bastante eclética! Tive minha fase de ouvir as cantoras brasileiras e muita MPB (Elis, Marisa Monte, Leila Pinheiro, Zizi Possi). Também estava sempre tentando descobrir cantoras não muito ouvidas, que não eram tão conhecidas e divulgadas (Mônica Salmaso, Fátima Guedes). Ouvia desde os 14 anos de idade a Soledad Pastorutti, cantora argentina que tem a mesma idade que eu, e por isso me despertou interesse sempre. E também, Mercedes Sosa, que tanta riqueza cultural deixou pro mundo todo através do seu cantar. Sempre ouvi muita música italiana, por ser “gringa polenteira” original de fábrica: Laura Pausini, Andrea Bocelli...

Atualmente estou na fase folclore! Sou fã de folclore, uma aficcionada por chacarera! Hoje em dia, tenho ouvido Los Nocheros, Sin Bandera, Luis Miguel, Las Cinco Vozes, Alejandro Sanz, Vicente Fernandes... Gosto de ouvir de tudo! E de alguma forma, tudo que ouço vai moldando minha percepção e minhas convicções com relação à música!

Diferente do que as pessoas possam imaginar, na minha família não tínhamos (até eu começar a cantar) uma vivência musical vasta no que diz respeito à música gaúcha. Eu conhecia o que todo mundo conhecia em função da mídia, e gostava de ouvir os trabalhos das pessoas com as quais eu convivia no meio musical, nos encontros dos festivais: Antônio Gringo, César Passarinho, Léo Almeida, Luiz Marenco, Joca Martins, Miguel Marques, e tantos outros cantores e cantoras que cruzavam nos palcos onde eu estava iniciando minha trajetória. E quando me pergunto de onde vem esse meu gosto, essa minha satisfação em cantar as coisas da minha terra, sempre faço ligação com as coisas que vivi e aprendi no campo com meu pai e no quanto tenho orgulho de poder traduzir em canções, esses sentimentos de amor e orgulho pela nossa história, pela nossa cultura, pelos nossos costumes... e tudo o que faz a tradição gaúcha ser conhecida e vivenciada até os nossos dias.




Juliana Spanevello em estúdio na gravação de seu terceiro CD

Quais foram as tuas participações mais recentes em festivais?

Recentemente estive no Festival de Música César Passarinho, em Caxias do Sul, com a composição “Alguém pra cuidar de mim”, do Duca Duarte e do Érlon Péricles, canção esta, que nos deu a premiação de segundo lugar e melhor intérprete do festival. Estive também na Sapecada em Lages/SC (tem o vídeo da apresentação no meu blog), com a canção Pampa e Flor, do Gujo Teixeira e do Roberto Borges. Estamos aguardando nova data do Minuano, que acontecerá em São Pedro do Sul, onde vou participar com a canção “A varanda da estância do Itu”, do Rodrigo Bauer e do Joca Martins. Também estarei também no festival Serra, Campo e Cantiga, em Veranópolis, com o show das Mulheres Pampeanas.

Como é a tua relação com outros músicos, principalmente com teus parceiros musicais?

Eu admiro as pessoas com as quais trabalho. Seja nos festivais, seja nos projetos dos quais participo, e nos meus projetos pessoais. A admiração pelas pessoas com as quais trabalho, cria-se um vínculo de respeito e de carinho com os colegas, que acabam sendo como parte da família. Já interpretei canções de diversos compositores diferentes, de regiões diferentes, de grupos de convívios diferentes e acho isso maravilhoso.

De que forma foi criado o Mulheres Pampeanas? Quantos discos chegaram a lançar?

O grupo surgiu através de um convite para que algumas cantoras realizassem um show juntas em Candiota, no Canto Moleque. Depois de criada a ideia para este show específico, foi mantido o projeto nos moldes deste primeiro show, aproveitando as quatro vozes nos arranjos vocais e trazendo um repertório de regravações de canções de raíz, na voz da mulher gaúcha. O grupo lançou até o momento apenas um CD (disponível para compra no blog), e o projeto Mulheres Pampeanas é paralelo às carreiras “solo” das cantoras que participam do grupo, que mantém, fora do grupo, suas carreiras individuais.



Juliana Spanevello firmou sua identidade e agora canta o que gosta

E na carreira solo, já são quantos discos? Quais são teus trabalhos mais recentes?

Lancei meu primeiro disco com produção independente aos 13 anos de idade, e o segundo pela gravadora ACIT, lá pelos meus 15 anos de idade. Mais ou menos aos 20 anos de idade, lancei um trabalho beneficente para a Liga Feminina de Combate ao Câncer, cujos recursos das vendas eram totalmente revertidos para esta entidade. Paralelamente a estes trabalhos, tenho a participação e o registro em diversos festivais, e também em alguns CDs que reúnem obras autorais, sendo que a participação mais recente foi no CD Pasto Nativo, do poeta Rodrigo Bauer, cantando “O sábio do mate” com Joca Martins (música disponível para download no blog).

A participação de mulheres nos festivais tem crescido. De que forma tu observas esse ponto? As oportunidades tem sido maiores ou é apenas impressão?

São raríssimas as mulheres que participam ativamente do movimento dos festivais, assim como, são raríssimas as mulheres que conseguem firmar seu espaço na nossa música. Difícil é entender porque isso acontece. Eu sinceramente não sei se a participação tem crescido, até acredito que não. Acho isso uma pena. São sempre quatro ou cinco nomes que circulam nesse meio. Às vezes, dependendo da época, o que mudam são os nomes. Desaparecem umas, voltam outras. E olha que tem muita gente boa que não consegue se manter neste circuito de tão poucas oportunidades para as mulheres!

Qual é a importância dos meios de comunicação, como a internet, o rádio; para a divulgação do nativismo? O teu blog, por exemplo, tem sido uma ferramenta importante para isso?

É nosso meio de chegar até as pessoas! O papel desses veículos é vital! Eu sempre soube disso, e depois da criação e da manutenção do blog, tive ainda mais clareza a respeito disso. Quanto mais veículos (rádio, TV, blogs, sites, jornais, revistas) estiverem mostrando a nossa música, a nossa cara, ou o nosso nome, mais numerosos serão os nossos pontos de contato com as pessoas. Assim nosso trabalho e nossa música conseguem ganhar espaço e se firmar.
O blog é uma ferramenta maravilhosa, que vamos conduzindo conforme nosso interesse e objetivo. Eu, como ainda não tenho site (que já está sendo providenciado), disponibilizo ali formas de contato para contratantes e público, release, além de notícias de divulgação do meu trabalho e notícias que acho interessante dividir com os leitores sobre os mais diversos assuntos. É prazeroso demais. Somos um pouco “jornalistas” da nossa própria vida. Gosto de divulgar, dentro das minhas disponibilidades de tempo, alguns trabalhos dos meus amigos, e notícias com assuntos que possam interessar ao público leitor do blog (festivais, rádios, eventos). O retorno é gratificante, as notícias vão atingindo ambientes que nem imaginamos. Da forma que conduzo o meu blog, vejo um benefício bem importante na divulgação do meu trabalho, e se minha disponibilidade de tempo fosse maior (hoje em dia tento postar uma ou duas vezes na semana pelo menos), acho que o benefício seria proporcionalmente aumentado.



A vivência de campo será colocada em suas canções do disco em produção

De que forma podemos atrair cada vez mais a nossa juventude para o meio nativista, já que são tantas as opções que podem encontrar?

Eu noto que a juventude tem tido mais interesse pela nossa música nos últimos tempos. Precisamos estar no meio dessa gurizada, nossa música precisa falar das coisas que a gurizada conhece e vivencia no campo, nos rodeios, nos cavalos, enfim, dos ambientes que a gurizada gaúcha conhece e frequenta, para despertar a atenção deles através da identificação com a música que eles ouvem.

Quais são os teus projetos para a sequência da carreira, teus maiores objetivos?

Depois de um bom tempo sem gravar e sem estar focada na minha carreira, estou retomando meus sonhos. Nesse momento da minha vida, estou focando a música. Estou preparando um disco novo! Uma proposta que foi amadurecida neste tempo que não estive dedicada à música, e que é um pouco diferente dos trabalhos que eu já tive. Um trabalho com objetivo e unidade. Hoje tenho clareza do que quero cantar, e consigo manter essa linha em todo o conteúdo do CD. Ele está em fase de produção e será gravado na segunda quinzena de julho. O CD conta com a produção executiva do Joca Martins e com a produção musical do Negrinho Martins.
Quero retomar meu espaço firmando minha identidade musical que está focada na nossa música campeira, inclusive direcionando minhas participações nos festivais para esta mesma linha. O show que estamos preparando, será o reflexo desta nova identidade! Meu sonho é poder assumir meu espaço no cenário musical gaúcho, de igual para igual com os homens, mostrando que a mulher também pode cantar as coisas gaúchas, do campo, do folclore, com propriedade, como os homens que fazem isso e tem seu público!

Deixe um chasque para todos aqueles que admiram o teu trabalho e também os teus contatos.

Agradeço sempre a cada uma das pessoas que ouve e acompanha meus trabalhos, e torço pra que continuem acompanhando. Estou trabalhando com muito carinho e dedicação para presenteá-los com um trabalho feito a capricho!!! Para trazer coisas novas, que possam transmitir esses sentimentos bons pela nossa cultura, pela nossa terra, e pela linda história que nós gaúchos temos o compromisso de contar e manter viva! Mil gracias sempre pelo carinho!

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